quinta-feira, 24 de maio de 2012

Soberania portuguesa em perigo nas ilhas de Cabo Verde

Os finais do século XVIII foram marcados pela determinação portuguesa de acabar com as ilhas desabitadas em Cabo Verde. Registe-se o propósito de levar a cabo o povoamento de S. Vicente, Santa Luzia, Sal e os ilhéus Branco e Raso. Afirmava-se a ideia de um povoamento branco instalando “ um bom número de degredados e casais europeus para as povoar”. Foi no reinado de D. Maria I que se determinou o povoamento destas ilhas. Aliciaram-se casais açorianos aos quais eram concedidos privilégios, como não pagamento dos foros (rendas) das terras ocupadas por um período de dez anos. Mas nem assim os povoadores apareceram. As dificuldades geomorfolágicas, o clima e o conhecimento das fomes endémicas que assolavam as ilhas, não atraiam povoadores. Sugiram iniciativas privadas que granjearam o apoio do governo de Lisboa, continuando este a insistir numa população maioritariamente branca, para o efeito limitando o número de colonos a transitar das outras ilhas de composição populacional maioritariamente negra. É assim que nas Instruções do que se deve praticar com a nova povoação da Ilha de S. Vicente, uma das desertas de Cabo Verde se afirma que a rainha “expressamente proíbe que das outras ilhas se possa transportar maior número de casais por não se julgar conveniente que esta nova povoação se execute inteiramente com os habitantes dessas ilhas quando pouco a pouco se podem ir introduzindo casais destes reinos e das ilhas dos Açores” e acrescenta que a razão apontada para esta proibição é que estes (do reino e dos Açores) “ se reputam de mais ativos e laboriosos e mais capazes de semelhantes estabelecimentos”. Esta postura racista resulta da ideia, corrente na época, de que os negros eram elementos inúteis ou perigosos, sendo mesmo acusados do atraso cultural da colónia. Esta posição ideológica justificou o envio de grande número de degredados e de colonos barcos para Santiago, para posteriormente serem encaminhados para S. Vicente. Mas esta iniciativa fracassou (1781) ao ponto de se verificar que “ dos que vieram de Lisboa… para serem colonos já não existe nem um só”. Uns tinham desertado, outros tinham morrido

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